8 de nov. de 2011

Vai Pela Capa

Mais uma semana de Vai Pela Capa, mais uma semana do que tem de melhor e pior saindo nas bancas lá fora. Muita complexidade quântica, anabolizantes, Megazords de carne e mais uma origem pro Superman. CUIDADO! Certeza que vão rolar SPOILERS!


ACTION COMICS #3


O que promete: Essa galera da USP tá foda hein.

O que acontece: Eu já perdi a conta de quantas vezes a origem do Superman foi recontada nesses últimos dez anos. Só de cabeça eu lembro de umas cinco. Não por menos, a definitiva continua sendo a do Grant Morrison.

Aqui o Morrison tem a chance de entrar em detalhes, e Krypton ganha vida mais uma vez, com muito mais personalidade do que de costume. Aqui você tem o contraste puro de uma sociedade evoluída, tecnologicamente avançada, com um design perfeito saído das mãos de Gene Ha, contrastando diretamente com uma Metrópolis mais suja, poluída, e crua por Rags Morales.

Esse contraste ajuda a determinar o que tem sido o ponto forte desse gibi, os personagens. Dos secundários que não são levados a sério fazem anos, ao próprio Clark Kent, que pela primeira vez em muito tempo ganha uma personalidade mais condizente com o mundo hoje, perdendo a apatia e.. ok, na moral, o Clark finalmente deixou de ser um cabação. Basicamente em três edições, o Morrison cuspiu em dez anos de
Smallville.



Cospe também em uma das instituições da origem do Superman, que é enfiar o Metallo em toda e qualquer necessidade de um vilão bucha. Talvez pra compensar o clichê de botar a mídia contra o herói, o bullying que o Homem Aranha sofre a décadas, aqui, o oficial John Corben, numa tentativa de chamar a atenção da Lois, se enfia no projeto Metallo, mas acaba sofrendo a possessão alienígena da invasão de Brainiac.



Essa foi talvez a minha edição preferida até então. É Morrison, com excelentes artistas ao seu dispor, brincando com uma das mitologias mais ricas da cultura pop. Incrível ver que um dos melhores gibis na banca hoje tem esse S na capa.


ANIMAL MAN #3


O que promete: É fácil empilhar robôs, quero ver fazer um Megazord de VERDADE.

O que acontece: Esse gibi é nojento.

Nojento num nível de tensão que me lembra filmes bons de horror, lembra Alien, lembra os episódios bizarros de Arquivo X. Não tem como, é abrir as primeiras páginas pra se ter essa sensação de como Jeff Lemire e Travel Foreman conseguem trazer os concept designs mais inspirados e medonhos no mercado hoje.

Nessa edição, o Animal Man e a sua filha Maxine encontram o mundo dos Totems, um plano metafísico onde todas as formas animais se encontram. Eles chegam bem a tempo desse plano ser também atacado pelos Hunters Three. Dois deles, já que um terceiro resolve acabar com a família do herói. Aqui, ele acaba descobrindo mais sobre a sua verdadeira origem e a parte mais interessante é que talvez ela esteja ligada à Fonte, conceito do saudoso
Jack Kirby.

Profecias reveladas, carne humana se contorcendo, animais mortos como bichinhos de estimação, como não amar?


Ação e horror são gêneros difíceis de combinar, mas aqui, Lemire e Foreman conseguem juntar os dois em um gibi que você não vai conseguir deixar de lado.


THE STRANGE TALENT OF LUTHER STRODE #2

O que promete: Talvez a melhor ideia jamais aproveitada pra uma campanha vegan.

O que acontece: Tem algo muito errado nesse gibi e isso é muito bom. Duas edições e você já sabe que os criadores Justin Jordan e Tradd Moore são nomes pra se ficar de olho.

Luther Strode é esse cara magrelo, nerdão da escola, que até ontem morava com a mãe e os seus ataques de pânico. Sem namorada, sem amigos.. fora Pete, talvez o único ser humano mais virgem que Luther, se é que isso é possível. Basicamente o default de 11 em cada 10 novos gibis.

Luther então resolve aprender uma técnica milagrosa anunciada no verso de um gibi, pra finalmente vingar todo o bullying que sofre, e proteger a sua mãe.
Anabolizantes, basicamente.

Amoral? Anti-ético? Não reclama, o Capitão América chapava de bomba desde os anos 40 e ninguém reclamou. Ninguém nunca se deu conta porque o Steve Rogers tem uma das vidas românticas mais sem sal dos quadrinhos? O soro do Super Soldado derruba o Hitler mas não levanta a bandeira, amigo.
Mas tudo bem, porque pro Luther aqui, meio que funciona. Ele coloca o valentão no hospital, e começa a se dar bem com as garotas, fica boladão sem a ameaça da impotência imediata. Único porém é esse efeito colateral, essa súbita vontade de matar todo mundo, o dom de ver através da pele das pessoas. Um raio-x que para nos músculos. Motivador suficiente pra dieta que vai acompanhar essa técnica milagrosa.

Podia ser mais um gibi insosso onde o nerd vira herói? Podia. Mas tem tanto músculo, sangue, nojentice, maluquice e diversão, que não da nem pra perceber.


INFINITE VACATION #3
O que promete: Cara, qualquer gibi com um FÉRIAS INFINITAS estampado na capa, merece a minha atenção.

O que acontece: Quando eu era pequeno e peguei
Crise nas Infinitas Terras pela primeira vez, naquele monte de conceitos sobre multiversos e realidades paralelas, eu terminei o gibi sabendo que tinha aprendido algo incrivelmente foda, mas sem saber explicar exatamente o que. Infinite Vacation #3 faz o mesmo aqui.

Em parte porque essa edição saiu com um atraso de quase seis meses, já não lembrava mais das duas primeiras edições, cai de paraquedas nessa teoria da conspiração que mistura religião, mecânica quântica, o sentido da vida, o
gato de Schrodinger e um serial killer fodendo versões dele mesmo de universos paralelos.

Crise nas Infinitas Terras, mais hipster e NSFW.

Aqui, Mark é só mais um alguém levando uma vida medíocre, com um app no seu iPhone que permite o básico pra se aguentar a pressão do dia a dia: férias em universos paralelos. Porque não viver a vida em um mundo onde você resolveu tocar o foda-se e virar hippie? Passar uns dias se divertindo no flat em Vegas nesse mundo onde você é um bilionário é mais a sua cara? Aqui você pode.

Porém tudo dá errado quando Mark repara que alguém está pulando universos, matando (assassinando? suicidando?) os 'Marks' de outras terras.

Nick Spencer escreve isso somando teorias e explicações metafísicas, enquanto Christian Ward entrega talvez um dos gibis mais artisticamente criativos no mercado hoje.
Você pode se interessar pelo sci-fi cerebral ou se atrair pela pop art pura, mas uma coisa é fato: esse gibi vai te fazer pensar.

Nenhum comentário: